A Repetição da Diferença (L.F. Biolchini) 2009
Terça-feira, 6 de Outubro de 2009
A Repetição da Diferença
Devido à pressão de populares e do amor público continuaremos com os posts de terça-feira. A vitória no micro-cosmo da potentia multitudine contra o Império trouxe SOL ao meio-dia, hora sem sombras, e às praias do Amor FC.
Devemos manter-nos em alerta, porém, pois há sempre um olho olhando-nos. Um olho a procurar o SOL nas cavernas da aparência, um olho que acredita ter visto a essência das imagens, o retrato do Brasil, o que faz de nós, nós. Um olho que acredita poder controlar os fractais e os infinitos que se desdobram em infinitos infinitesimais, não um olho que quer parir o filho de Deus divinizando-se com seus raios maculados in the butt. Mas um olho assustadoramente assustado com a ontologia da diferença.
Então, re-começaremos nosso post com duas imagens. 1. caso Schreber, famoso juiz alemão reconhecido (reconhecido e não conhecido, isto é muito importante) por sua idoneidade moral e por sua inconfundível arte de usar a razão aliada aos vastos conhecimentos do Direito na aplicação de sentenças, em uma noite simbólica, abre as janelas de sua casa, despe-se e escuta Deus sussurando em seu ouvido que vai penetrá-lo com os raios do SOL em seu cu a fim de parir um SALVADOR. S., então, se vê responsável pelo futuro da humanidade e escolhido para parir seu salvador.
2. JORNAL O GLOBO DE HOJE (sim, o grande hebdomadário)" Casal mata mulher com quem marido tinha caso. O desembargador CArlos Antônio da Silva Veronez, de 31 anos, e a mulher dele, a comerciária Elisângela Vieira Laje, de 38, foram presos no início da madrugada de ontem, em Resende, após assassinarem com quatro tiros na cabeça a vizinha Kelly Pereira Soares, de 24. ... após descobrir a traição do marido, há duas semanas, Elisângela exigiu dele que, como prova de amor, matasse Kelly."
Um desembargador - segundo posto no curso distinto e honorífico da magistratura - com 31 anos - alguém no começo da carreira, jovem, sadio - casado com uma mulher de 38 - adepto às convenções maritais, marido exemplar, com uma esposa 7 anos mais velha, o que demonstrar maturidade - para provar seu amor por sua esposa assassina cruelmente sua amante e vizinha. Será Carlos Antônio Veronez um marido exemplar, cumprindo o desejo de sua mulher e defensor do matrimônio, justiceiro das adúlteras, juiz de Deus (Wotan matando seu filho em os Anéis de Nibelungo? - desculpem-me pela referência, depois eu explico melhor)? Será Carlos Antônio Veronez uma aberração de excesso de norma? Ou será CArlos Antônio Veronez alguém que tomou o vento na floresta por um chamado de elfos? Enfim, você a mataria se eu o pedisse prova de amor? Se eu dissesse que meu amor é raro e importante o bastante a ponto de fazer você desprezar e agir cruelmente contra aquela que representa a falta no nosso amor? Onde fica a eternidade da imagem que nossos olhos representam do real quando o SOL cada vez se parece mais com caverna e quando nossos próprios OLHOS se metamorfoseiam em mensageiros do divino ou assassinos cruéis? O que é um juiz se não alguém que representa o perfeito papel do Idiota em meio a fractais e a instabilidade do instante?
Devemos manter-nos em alerta, porém, pois há sempre um olho olhando-nos. Um olho a procurar o SOL nas cavernas da aparência, um olho que acredita ter visto a essência das imagens, o retrato do Brasil, o que faz de nós, nós. Um olho que acredita poder controlar os fractais e os infinitos que se desdobram em infinitos infinitesimais, não um olho que quer parir o filho de Deus divinizando-se com seus raios maculados in the butt. Mas um olho assustadoramente assustado com a ontologia da diferença.
Então, re-começaremos nosso post com duas imagens. 1. caso Schreber, famoso juiz alemão reconhecido (reconhecido e não conhecido, isto é muito importante) por sua idoneidade moral e por sua inconfundível arte de usar a razão aliada aos vastos conhecimentos do Direito na aplicação de sentenças, em uma noite simbólica, abre as janelas de sua casa, despe-se e escuta Deus sussurando em seu ouvido que vai penetrá-lo com os raios do SOL em seu cu a fim de parir um SALVADOR. S., então, se vê responsável pelo futuro da humanidade e escolhido para parir seu salvador.
2. JORNAL O GLOBO DE HOJE (sim, o grande hebdomadário)" Casal mata mulher com quem marido tinha caso. O desembargador CArlos Antônio da Silva Veronez, de 31 anos, e a mulher dele, a comerciária Elisângela Vieira Laje, de 38, foram presos no início da madrugada de ontem, em Resende, após assassinarem com quatro tiros na cabeça a vizinha Kelly Pereira Soares, de 24. ... após descobrir a traição do marido, há duas semanas, Elisângela exigiu dele que, como prova de amor, matasse Kelly."
Um desembargador - segundo posto no curso distinto e honorífico da magistratura - com 31 anos - alguém no começo da carreira, jovem, sadio - casado com uma mulher de 38 - adepto às convenções maritais, marido exemplar, com uma esposa 7 anos mais velha, o que demonstrar maturidade - para provar seu amor por sua esposa assassina cruelmente sua amante e vizinha. Será Carlos Antônio Veronez um marido exemplar, cumprindo o desejo de sua mulher e defensor do matrimônio, justiceiro das adúlteras, juiz de Deus (Wotan matando seu filho em os Anéis de Nibelungo? - desculpem-me pela referência, depois eu explico melhor)? Será Carlos Antônio Veronez uma aberração de excesso de norma? Ou será CArlos Antônio Veronez alguém que tomou o vento na floresta por um chamado de elfos? Enfim, você a mataria se eu o pedisse prova de amor? Se eu dissesse que meu amor é raro e importante o bastante a ponto de fazer você desprezar e agir cruelmente contra aquela que representa a falta no nosso amor? Onde fica a eternidade da imagem que nossos olhos representam do real quando o SOL cada vez se parece mais com caverna e quando nossos próprios OLHOS se metamorfoseiam em mensageiros do divino ou assassinos cruéis? O que é um juiz se não alguém que representa o perfeito papel do Idiota em meio a fractais e a instabilidade do instante?
3 comentários:
Belo posto, Biolca.
O problema, não exatamente seu, mas do próprio Deleuze é que a diferença nela mesma, por vezes, parece um atalho muito rápido para o inconsciente. Como se a diferença não fosse apenas mais um conceito, criado historicamente, a partir de uma certa perspectiva e dependente da cultura do seu tempo. A diferença não é nova, ela é o mesmo que condiciona o surgimento do novo.
Daí, o problema é diferenciar aqueles que a afirmam dos que a negam a diferença. Quero dizer, o problema é que Deleuze não acha que isso seja um problema: para ele, é evidente que o juiz só está repetindo –– afirmando ficções que negam a vida ––, enquanto os artistas, cientistas e filósofos (e, de certo modo, os marginais (apesar disso ser uma ambigüidade)) tem uma relação mais intensa com a diferença. Dizer simplesmente que o outro é um fascista, porque ele não é cientista, marginal, filósofo ou artista é a coisa mais fascista que há. O que eu acho filosoficamente mais interessante (apesar de não ser bem o que o Deleuze faz o tempo todo, mas, enfim, precisamos pegá-lo pelas costas) não é perguntar:
1. O que é um juiz se não alguém que representa o perfeito papel do Idiota em meio a fractais e a instabilidade do instante?
2. O que TODO MUNDO se não alguém que representa o perfeito papel do Idiota em meio a fractais e a instabilidade do instante?
Mas isso destrói a questão política: se não podemos dizer que o juiz (mas, no fundo todo esses homenzinhos da pragmática da advogacia, da comunicação, da economia... com suas questões imbecis, com seus conceitos imbecis, com sua ausência total de questões, preconceitos, festas de formatura imbecis, roupas imbecis, mulhere fálicas imbecis, sonhos imbecis, manuais de cantada...) é um fascista, entificador do Ser ou negador da diferença não tem mais política filosófica. Todo mundo é fascista e revolucionário. O que não é bem assim.
Então...
A plastic blond estava tentando resolver isso, mas vc se vê pela saída dos antigos membros e a falta de comentários dos mesmos que ela não conseguiu grande coisa, o que me leva a crer que a filosofia e a ARTE também tem q ficar realmente no seu nichozinho, com a sua gentinha, o que é um tanto quanto triste. É por conta disso que eu resolvi responder sem humor a esse seu post.
the bitch is back
Felipe Moreira,
Assustadoramente e melancolicamente concordo contigo.
Amanda,
say it loud: I´m back and proud