As aventuras de Super Moreira na Holanda - Parte 2 (F.G.A.M.) 2009

 

Domingo, 19 de Julho de 2009

As aventuras de Super Moreira na Holanda - Parte 2

...mas você continua extasiado, mas não por muito tempo, daí quando você chega você está sóbrio como porta, como o pedaço de madeira quebrado de uma porta... E você pensa que você quer se enfiar em alguém, em tanto que você é um pedaço de madeira de porta, em tanto que você é uma estaca humana talvez, mas você chega e você está cansado e você arranja um albergue e deita e dorme. E não sonha, mas queria ter sonhado com qualquer coisa, como “Baby, you´re the one”, de Elton John e acordar e fazer um comentário acerca da possibilidade de uma ética kantiana. Quero dizer, você se sente sóbrio como um pedaço de madeira que quer se entranhar em alguém e isso não é sexual. É algo afetivo, no sentido de que você queria ser um todo com a terra. Mas você pensa que aí vem um filho da puta e fala: mãe, e fala: Édipo, e não é isso que você quer dizer, porque você é romântico, hordeliano, deleuziano, mas você não é lacaniano... Mas, enfim, você acorda, cinco horas depois e demora um cinco minutos para se tocar what the hell you´re doing at Geldrop? E você se toca: “Vasco Da Gamastraat”. E você come um misto-quente e ele parece céu. Não. Não parece, mas estava muito bom. Estava ótimo. Estava bom pra caralho. Era uma porra de um misto quente foda com um chocolate quente foda e você acha que é legítimo, que você tem o direito de ser piegas e dizer: é um céu. É um céu de misto-quente. Daí você sai e começa a andar e seus ossos estão meio quebrados. Melhor quebraram teus ossos e colocaram de novo dentro. Agora você anda e você tem ossos triturados. E você compra um mapa. Você compra, porque você não é um modernista, marginal safado, você é um cara legal, meio rico. E você acha a rua, depois de uns vinte minutos. E tira uma foto, porque você estava carregando uma máquina o tempo todo. E você tira uma foto do nome da rua e uma foto sua e você fica razoavelmente feliz, mas queria estar mais, queria que essa história fosse menos reles, mas ela não é reles, ela não é reles, você se repete, enquanto vai até a próxima estação. Mas, antes, você se toca de que perdeu o papel com o nome das outras cidades que tem ruas Vasco. Você sabe que já viu duas. Mas tem mais três. E você vai até uma lann house e entra no google e pensa: se eu digitar google no google, toda a Internet explode, e você digita e ela não explode, mas você ri e você está razoavelmente feliz. E você procura as ruas Vasco e você acha. Mas a foda é que não são três, como você esperava, mas mais seis, inclusive uma em Amsterdã. Porra, são oito ruas chamadas Vasco Da Gamastraat na Holanda e seria preciso traçar um paralelo entre isso e o desejo, entre isso, o explorador Vasco da Gama e o time Vasco da Gama e você, mas tudo seria tão pesado e tão filosófico que ninguém teria saco, mas você sabe que deveria traçar um paralelo entre todas essas instancias, mas você não tem saco. E você anota o nome das ruas e vai para Emmen. Você não tem saco de calcular o menor trajeto e você tem dinheiro, porque você não é um modernista, bicha, traveca, safada, sem dinheiro, você tem dinheiro e queria ser um modernista, um radical modernista, mas é impossível. E quando AMANTE ITALIANA te pergunta: “qual é a parte que você mais gosta do meu corpo?”, você disse: a junção da parte de trás da perna entre a coxa e a batata da perna. Você não disse: a buceta, a bunda, a boca, os olhos, o cabelo, os peitos. Você disse: junção da parte de trás da perna entre a coxa e a batata da perna, porque você quer ser novo, você quer fazer coisas novas e dizer isso é novo e ela não estava esperando e ela faz aquela cara: “que porra é essa?” ou “ele é um cretino” e você se sente bem. Mas, enfim, você está no trem e você está pensando nisso e, depois de uma duas horas, você chega e você tem fome e você come um hamburger, num restaurante americano e é foda. É foda e você come como um porco americano, gordo e capitalista e isso faz de você um porco americano, gordo e capitalista e você ama isso. Você se suja, gordo e você ama isso. E, depois, você sai e vai até a rua. E você se toca que esse já é o segundo dia que você está fazendo isso, e que agora você começa a ficar de saco cheio, porque você não quer muito se drogar ou beber de novo, porque você está de ressaca e você não é um drogado safado ou alcoólatra safado, mas teve um dia que você chupou o cú da AMANTE ITALIANA e gostou e pediu para ele chupar o seu e gostou, então, você é meio safado. E você chega na rua e vê a rua. E foda-se. Agora você está definitivamente de saco cheio. Você tira a foto e você está de saco cheio. Fui meio súbito, mas, de repente, você sente saudades da AMANTE ITALIANA, porque, de certo modo, você ama ela e ela te ama e você quer voltar, mas você sabe que isso não seria Vasco, segundo seu conceito de Vasco. Mas, segundo seu conceito de Vasco, só Nietzsche, Kant, Platão, esses grandes criadores foram Vasco. Você não é Vasco. Você é fraco. Você é médio. Você é relea. Mas que porra de conceito é esse afinal e você começa a problematizar o imperativo que deveria ser, embora individual, categórico para você, porque você está de saco cheio, mas, não ainda miserável, mas quase. E você não quer ir para outra cidade, já são 18:00 horas e está escuro e frio e você quer ficar na cidade, mas você não quer ficar na cidade sozinho e você pensa: se isso fosse um romance beat, o que Jack Kerouc faria? E você pensa: se eu fosse Tom Cruise, o que eu faria? E você não sabe, você não acha que Tom Cruise seria imbecil o bastante para embarcar nesse tipo de bad trip, e você também não está tão drogado para ser beat, você é um moderado, você, um merda, um gordo, um porco, um botafogo... Não. Você não é. E você decide, mesmo depressivamente, pegar um trem até Valkenswaard, e você pega e demora uma hora para chegar e você está exausto. Isso, porque você ficou se martirizando, depois se auto-elogiando, depois, se martirizando no trem até chegar. E você chega e procura, não a porra de um albergue, mas um hotel decente de três estrelas e você dorme, nesse hotel e você, não está miserável, mas está chegando lá. E você acorda e você já viu três ruas Vasco. Você vai ver a quarta rua Vasco agora e você vê. E faltam ainda quatro ruas. Ok, a de Amsterdã é fácil, mas as outras três ficam uma em cada lado da porra da Holanda. E você detesta a Holanda e os holandeses. Eles são todos altos, loiros e parecem meio retardados, mas meio legais, e você nunca sabe se eles são filhos da puta ou não. E você não sabe se os holandeses apoiaram o nazismo, ou não. Esses filhos da puta devem ter apoiado o nazismo, ou deixado os nazistas entrarem é o que você pensa. Mas você não sabe, ou você esqueceu. Mas, por outro lado, trata-se de um país com oito ruas Vasco e isso é genial. Mas você agora definitivamente não tem a menor vontade de ver outra rua chamada Vasco, você está de saco cheio. Você está de saco cheio de pensar em termos de você, quando com você, você quer dizer eu, EU, EU, EU, CARALHO! E você acha que você já disse isso antes. Então, não tem nenhuma razão para você continuar e você queria fazer uma enquête, num programa de auditório, quem acha que ele deve continuar, vota SIM, quem acha que ele não deve continuar, vota NÃO, aí você não ia precisar decidir, mas você está fatigado, então, você decidi ligar para AMANTE ITALIANA, isso porque você se masturbou sozinho, vendo filmes pornôs no hotel. E você liga e ela está cheia de merda de mulher, dizendo, como você me deixa, como você me deixa assim descordada, ou morta, sozinha na cama, você é um escroto, você é um filho da puta, e você conta toda a história, e ela meio que acha engraçado, e você, porque você é um porco que sabe argumentar como um filho da puta de um porco que leu boa parte da Crítica da Razão pura, quero dizer, como um filho da puta que sabe precisar que no parágrafo 91 da Crítica do juízo teleológica, Kant diz que a “liberdade é o único fato da razão” e você começa falar que você tem o direito, até que ela acredita que você estava certo e que, no fundo, ela tem mesmo sorte de estar com alguém como você. Quero dizer, depois, uma hora depois, um dia, um mês, alguma hora, ela vai te tocar que você é um escroto, mas até lá, você já vai ter deixado ela, porque você já vai estar traindo ela com outra e ela vai te odiar, ela vai te odiar, ou, de repente, não vai te odiar e vai ficar dormindo com você esporadicamente durante um ano, ou dois. Mas você pergunta se deve continuar e a vadia responde que não sabe. É claro que ela não sabe. É claro que ela não tem uma justificativa para torna isso admirável, ou detestável. Ela não tem uma justificativa para isso ser um espécie de maneira de combater a pobreza no mundo e fazer de você, um herói, ela não acha detestável também a ponto de dizer, volta, volta, seu puto, ou vai embora, ou morra, morra, seu escroto. E nisso estamos falando italiano e eu começo a dizer algumas obscenidades em português e peço para ela dizer em italiano. Mas esse tipo de coisa nunca é tão bom, quanto quando você faz com uma alemã. Uma alemã pelada e brancura do branco e culpa pelo nazismo e você diz: chupa meu pau, porque o seu país matou 6 milhões de judeus, deixa eu enrabar esse seu cu de vadia nazista e ela deixa e ela tem um bunda branca linda e imensa e alemã e ela fica excitada cada vez que você chama ela de porca, nazista. Porca nazista, eu vou te destruir como um nazista, para você aprender que o nazismo é escroto, me “destrua, me destrua”, ela diz, porque eu sou uma deustch horn, Ih hod deur, dirty, desuts... Enfim, nada disso tem graça com as italianas, porque elas não têm culpa, porque para eles foi uma coisa mais light. Mas, enfim, eu desligo e não digo nem que vou, nem que não vou voltar hoje. E vou comer batatas fritas com maionese, porque é isso que comem aqui e isso é a coisa que eu mais gosto nesse país. Eu agora vou comer sempre batata frita com maionese. Mas é difícil achar uma maionese tão boa quanto a holandesa. Então, você decidi ficar bêbado e onze chopps depois, você está bêbado e sozinho e estar sozinho quase te deixa mais bêbado a ponto de que você pega outro trem, agora para Heerlen parte. Você continua bebendo no trem, porque você comprou algumas garrafas e você acaba vomitando. Você vai até o banheiro e vomita. E quando o trem chega, um guarda te acorda. E quando você acorda você faz uma cara feia que ele respeita, porque você é branco, você não é holandês, mas você é branco e você tem passaporte europeu, e só de olhar para a sua cara o guarda percebe qual é a sua, e sabe que ele não deve fazer nada com você, não deve gritar com você, não deve bater em você, porque você é branco, europeu e heterossexual, ainda que sobre esse último ele não tenha certeza, mas você tem e deixa isso clao. Mas você acorda, faz uma cara feia. E pergunta como um macho deve perguntar, em alto e claro american english, “where is Vasco Da Gamastraat?”, e o guarda te diz onde fica, simpaticamente, e você manda até uma piada e sai, lentamente e fatigado e meio, por assim dizer, “felling the blues”, e você vai indo até a rua, que, felizmente, não fica muito longe da estação...

5 comentários:

Rafael Brito disse...

Eu li todo.

Ainda acho que você devia criar um personagem. Um nome legal. Um cara legal. Tipo eu.

Taí. Por que vc nao da o nome do seu personagem de EU?

Eu sou legal!

Moreira disse...

Vou tomar isso como desafio.

Vou criar um personagem chamado Rafael Brito.

Mas essa já é a minha segunda promessa de post... Quero dizer, já prometi Julio Iglesias II, há algum tempo...

Rafael Brito disse...

Não, Rafael Brito não.

EU

EU é um nome legal.

Moreira disse...

Rafael Brito ia ser melhor, já estava até começando a pensar numa história...

Rafael Brito disse...

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Comentários

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